“(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro.)”
João Cabral de Mello Neto, 1942-45
A importância histórica do edifício dos Correios acresce devido à sua localização urbana. Não há dissociação entre o valor do patrimônio e o seu contexto. A região central, de fato, é depositária de uma experiência urbana e existencial constitutiva da formação de nossa esfera pública. É esta situação marcante de vivência urbana, esvaziada ou perturbada pelo processo de descentralização da metrópole, que pretendemos afirmar e desdobrar no partido adotado.
Os acessos:
A permeabilidade do edifício, traço forte de nossa proposta, manifesta o desejo de estender o espaço público ao seu interior e conta com a pluralidade original de seus acessos. São três as situações que se oferecem ao transeunte: a entrada principal pelo Vale do Anhangabaú, a entrada lateral pela São João e a entrada pelo Beco do Piolim, completamente revalorizada, além do acesso de veículos pela Praça Pedro Lessa. Historicamente, a própria posição geográfica do edifício, situado numa vertente do vale, definiu que esses acessos se fariam por três cotas distintas. A acomodação do edifício à essa topografia é que sugere fortemente que os acessos devem oferecer ao passante a continuidade do percurso.
O vazio:
A leitura das qualidades específicas do edifício norteiam as intervenções tanto nas construções como nas demolições. A requalificação interna do prédio, somada à intenção de interligar os acessos em suas diferentes cotas, levou a proposição de um grande vazio central, configurado pelas galerias conexas e por uma cobertura transparente, inaugurando no prédio uma nova dinâmica do espaço interno. É ainda nesse grande vazio que o sistema de circulação se insere, interligando os diversos níveis com escadas rolantes.
Serão restauradas todas as fachadas externas, incluindo as fachadas originais abertas à praça do Piolim e o saguão da entrada principal. O vazio central revela a estrutura das galerias, agora valorizadas, e cria para o edifício novas fachadas. A organização espacial dessas galerias, em função de sua unidade estrutural, oferece um critério para a constituição das novas aberturas.
O novo prédio:
A construção de um novo prédio, que contém as salas de espetáculo, uma praça no nível do beco, completa, de maneira precisa, nosso partido, requalificando funcionalmente o edifício original. A demolição dos acréscimos no fundo do lote permitiu dotar o Espaço Cultural dos Correios de salas de espetáculo inteiramente adequadas e modernas e solucionar aspectos técnicos, fundamentais para os padrões de conforto e segurança pretendidos. Uma garagem e pátio de serviço no subsolo; uma praça coberta e outra elevada, ao nível do Beco do Piolim, ambas interpretadas como extensões do teatro e da circulação do edifício e, ao mesmo tempo, lugar de estar e de práticas culturais (como exposições, sessões abertas de cinema ou, quem sabe, reuniões públicas com recursos telemáticos); dois cinemas flexíveis, uma vez que podem abrigar reuniões ou conferências; e, por fim, um andar técnico, que abriga, entre outros, os equipamentos de ar-condicionado e as caixas d’água.
O espaço cultural no prédio requalificado:
O pavimento térreo, no nível no Vale do Anhangabaú, é ocupado integralmente pela agência dos correios. A disposição de todas atividades relacionadas à agencia postal no mesmo pavimento, integrado ao subsolo do novo edifício (pátio e estacionamento), garante uma fluidez horizontal das atividades.
O pavimento no nível da avenida São João é marcado pela agência filatélica. Abrindo-se imediatamente para uma praça situada no piso do vazio central, que abriga o posto de venda de ingressos para todos os eventos do centro cultural bem como para espetáculos na cidade, dá acesso a um restaurante e salão de chá e ao foyer do teatro (também espaço de exposições).
No primeiro pavimento, o acesso ocorre numa praça, extensão do Beco do Piolim. Nas galerias que circundam o vazio central, ao lado do restaurante-bar (com vista para o Mosteiro de São Bento), estão espaços de circulação fluida: compra de livros e CDs, leitura, jogos.
No segundo pavimento, a biblioteca, que ocupa a galeria que dá face ao Vale do Anhangabaú, foi valorizada em nossa proposta. Previsto para abrigar mais de 30.000 títulos, além da cdromteca, e da mapoteca, este espaço poderá manter um acervo especializado na história da cidade, em artes plásticas e arquitetura. Ao seu lado, uma ampla sala climatizada oferece todas as condições técnicas (ar condicionado e controle de umidade e luz) e de segurança para receber todos os tipos de exposições.
O terceiro e último pavimento, com outro cinema com igual flexibilidade, abriga uma sala de exposições e várias salas para cursos ou conferências, que juntamente a uma área destinada ao café e a uma cozinha para bufês, proporciona um uso interligado para a realização de congressos e convenções.
Aspectos Urbanos:
A recomposição do sentido funcional do centro tradicional, entendido como “um território local articulado e articulador da esfera global metropolitana”, decorre da disponibilidade de contextos urbanos adequados, de equipamentos e serviços categorizados, e, conseqüentemente, da recuperação dos valores e atividades imobiliárias. Essas condições requeridas mantém relação de interdependência com as atividades de transporte, segurança e estacionamento; equação esta que envolve uma integração da sociedade e dos diversos níveis de governo.
O perímetro de recuperação urbana delimita uma área marcada por diversos edifícios de importância histórica que no seu conjunto caracterizam um cenário fértil de transformações, constituído por um pólo cultural, comercial e de serviços, com potencial indutor e de alavancagem de recuperação urbana e ambiental.
A Praça Pedro Lessa, afirma-se como o prolongamento externo e efetivamente público do Espaço Cultural.ou seja, as atividades ai desenvolvidas deverão expandir-se naturalmente sobre a Praça, servindo como palco aberto de grandes eventos ou exposição de grandes esculturas, refletindo a dinâmica do Espaço Cultura dos Correios.
Vale do Anhangabaú. São Paulo, SP
1997 . 2008
UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda barbara e Fernando Viégas, Ana Paula Gonçalves Pontes e Catherine Otondo
César Shundi Iwamizu, Eduardo Chalabi, Gustavo Rosa de Moura, Mariana Felippe Viégas, Roberto Zocchio Torresan, Paula Zasnicoff Cardoso, Marcio Guarnieri
Antonio Carlos Barossi, Regina Prosperi Meyer, Renato Viégas
Hani Ricardo Barbara
Pedro Puntoni
Rodrigo Naves
França & Associados Engenharia s/c ltda; Ricardo Leopoldo e Silva França, Américo Griecco júnior, José Carlos Medina
Engebrat - Consultoria Engenharia e Projetos; Romão Rybka, Jorge Rybka
Cepollina Engenheiros Consultores s/c ltda; Mario Cepollina
Tesis - Tecnologia de Sistemas em Engenharia s/c ltda; Francisco Landi, Paula Landi, Marcos, Francisco Diego
Antônio Luiz Dias de Andrade (in memorian), Arq. Beatriz Mugayar Kühl
Thermoplan - Engenharia térmica ltda; Eng. Eizo Kosai
Ambiental s/c ltda; arq. Sofia Luri Kubo, arq. Luís Carlos Chichierchio
J. C. Serroni Criações Visuais s/c ltda; arq. Gustavo Lanfranchi
Franco & Fortes Lighting Design ltda; Gilberto Franco, Carlos Fortes
Precx Consultoria em Alimentação ltda; José Aurélio Claro Lopes
R. Boselli International Marketing ltda; arq. Roberto Boselli
Quantum Consultoria s/c ltda, eng. Aluízio Amaral Monteiro Leite
AEC Consultores de Arquitetura e Construção ltda; Paulo Celso Duarte
eng. Giovanni Palermo
Grádua
Nelson Kon