UNA barbara e valentim

Modulares BV (Modular 5.5 e 2A)

Modulares BV (Modular 5.5 e 2A)

Modular 5.5 [4 módulos: Q+Q+C+S]

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A madeira tem se mostrado um dos materiais mais promissores, senão o mais, em relação às novas possibilidades desejáveis para construções sustentáveis, dada sua característica de matéria-prima renovável. No Brasil, país tropical onde a velocidade de crescimento das árvores é muito grande, assim como a disponibilidade de terras para o reflorestamento, o potencial da madeira como matéria-prima da construção é enorme. Material usado ancestralmente para a construção, a madeira hoje responde perfeitamente à demanda de construções industrializadas e operadas com alta tecnologia. A indústria brasileira da madeira industrializada (ou engenheirada) tem adotado o pinus ou eucalipto como matéria-prima.

No Modular BV optou-se pela utilização do eucalipto, madeira média densidade, de ótimo desempenho técnico e que recebe tratamento mais adequado à saúde e meio-ambiente, evitando o uso de autoclave. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Crosslam, empresa pioneira na produção de madeira engenheirada no Brasil e que garantiu a qualidade e rigor técnico ao projeto. É um sistema de construção de casas pensadas como um processo de montagem. Estrutura e fechamento foram concebidos em vigas, pilares, paredes e lajes em madeira de reflorestamento produzidas em fábrica e levadas ao terreno para serem montadas no local.

Além disso, o sistema baseia-se no desenho de módulos programáticos: Sala, Cozinha, Quarto, Estúdio, Varanda etc., que podem ser agrupados livremente para compor diversas organizações para as casas. As plantas para cada um dos módulos foram desenvolvidas com todo cuidado e precisão, chegando em dimensões internas de 5 x 5 metros, que atendem a um espaço bem equacionado para os quartos (cama de casal ou duas de solteiro), banheiros espaçosos, sala de estar (que permite arranjos diversos e confortáveis) e sala de jantar que incorpora uma cozinha totalmente equipada, desenhada com precisão para facilitar as atividades de uma cozinha prática.

Com o projeto desenvolvido em módulos programáticos independentes, o sistema alcançou enorme potencial de adaptabilidade à diferentes arranjos de programas, diferentes áreas construídas, distintas situações geográficas, topografia, vistas e insolação. Ao mesmo tempo, o sistema garante precisão técnica, em enorme rapidez e agilidade no tempo de projeto e construção.

Em um cenário de mudanças climáticas, é conhecido o impacto da construção civil na contribuição para aumento do carbono atmosférico. A madeira engenheirada se apresenta como matriz construtiva alternativa renovável e de baixo consumo energético para produção. Durante seu crescimento, a madeira contribui na captação do carbono no processo de fotossíntese, esse carbono “sequestrado” retornaria à atmosfera durante a decomposição ou queima da madeira.

Empregar a madeira na construção civil é, portanto, uma forma de postergar esse efeito. Por fim, o projeto foi pensando de modo autônomo em relação ao consumo de recursos naturais – captação de água, produção de energia elétrica por placas fotovoltaicas, descarte de águas cinzas e negras, biodigestores. O Modular BV foi desenvolvido em duas versões, o Modular 5.5 e o Modular 2A, para atender os mais diversos contextos de implantação.

Fabricação e Usinagem das Peças de Madeira

No projeto foi utilizada madeira de eucalipto para a confecção das peças, de origem conhecida e legalizada, proveniente de florestas plantadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Para colagem das lamelas, se utiliza adesivo, livre de formaldeídos, certificado para o uso estrutural e à prova d’água. Visando aumentar a resistência frente a elementos deterioradores, a estrutura é submetida a aplicação de proteção superficial, tendo ação fungicida e inseticida. Além disso, para evitar o efeito de wheathering (dessaturação da madeira), aplica-se uma camada de stain de alto desempenho à base de água em todas as faces das peças de madeira. Para a produção de peças industrializadas, o eucalipto é transformado em madeira laminada colada, tanto no formato CLT (Madeira Laminada Cruzada) como no formato MLC (madeira laminada colada). A tecnologia foi determinante para o desenvolvimento de novas colas para unir as lamelas, para os cortes precisos das peças por meio de braços mecânicos e para o próprio cálculo estrutural.

Modelo 3D (BIM) da arquitetura e sistemas de infraestrutura

O projeto foi desenvolvido em plataforma BIM, o que permitiu a correta especificação de toda a operação construtiva, que se inicia com a produção das peças de madeira: corte e usinagem precisos, e essa decisão no processo de projeto permitiu que todos os sistemas infra estruturais pudessem ser incorporados no modelo tridimensional, possibilitando solucionar eventuais conflitos entre as disciplinas – estrutura de concreto, topografia, instalações elétricas, hidrossanitárias, de ar-condicionado e telefonia. A inovação está no uso de um material aplicado desde as primeiras habitações – a madeira – em um contexto tecnológico construtivo de ponta, extraindo o desempenho máximo a partir do projeto computacional, com foco na sustentabilidade e no design.

Canteiro de Obras e Baixo Impacto Ambiental

O canteiro de obras é palco de uma montagem, onde um número reduzido de operários consegue erguer a casa rapidamente, e ao contrário de uma obra convencional mostrou-se muito adequado para viabilizar a construção tanto em contextos urbanos quanto em lugares remotos e de acesso difícil. A construção em madeira desse sistema tem ainda a virtude de ser leve, o que permite que seja construída sobre uma placa de concreto (radier) ou a partir de uma fundação rasa e uma laje suspensa em concreto (atendendo a diversas declividades de terrenos). A estrutura de madeira é composta por vigas e pilares em MLC (Madeira Laminada Colada), incluindo paredes em painéis de madeira em CLT (Madeira Laminada Cruzada) e uma placa de cobertura também em CLT. A construção rápida e as operações organizadas no canteiro, garante qualidade da execução e praticamente nenhum resíduo de obra (o que está associados também a não existir perda material ao longo dessa montagem). São condições que minimizam o impacto da nova construção no terreno, com pouco movimento de terra, preservação das linhas naturais de drenagem e da vegetação nativa. A incorporação de placas solares para aquecimento de água, painéis fotovoltaicos, tanques de acumulação de águas pluviais para reuso e tratamento de esgoto através de biodigestor doméstico tornam a unidade autossuficiente.

Modularidade e Flexibilização de Acabamentos

O sistema prevê algumas opções de materiais para as fachadas ventiladas (recobrimento das paredes de CLT): painel metálico ondulado (cores diversas), réguas de madeira natural ou com aplicação de stain preto ou outras colorações. Oferece também algumas opções de pisos, bancadas, louças e metais, permitindo personalização, e mantendo o objetivo de entregar a construção pronta para o uso. Outro elemento importante para a flexibilidade é o sistema de iluminação, organizado a partir de uma canaleta elétrica que atravessa toda casa, elemento a partir do qual todas as luminárias podem ser fixadas e energizadas. As luminárias possuem difusor de ângulo variável, permitindo luz direta ou indireta, para cima ou para baixo, dependendo do uso de cada ambiente ou situação. A madeira funciona como acabamento das paredes e tetos da maioria dos ambientes. No entanto, exterior as paredes são recobertos por telhas ou deques de madeira, constituindo uma fachada ventilada cujo acabamento é uma escolha de cada futuro morador. O sistema inclui ainda a possibilidade de escolha de um conjunto de acabamentos para fachada e para as áreas internas.

O Modular 5.5

O Modular 5.5 foi desenvolvido com largos beirais que possibilitaram a utilização de caixilhos amplos que, por sua vez, além de otimizar as condições para iluminação e ventilação natural, garantem visuais para o exterior. O beiral frontal, com quase 2 metros de projeção sobre os caixilhos, viabiliza aberturas amplas com sol controlado, Os beirais laterais e o do fundo, onde a cobertura se aproxima do solo, são menores, e correspondem às fachadas com menos aberturas. Os caixilhos estão em dois planos, e em duas alturas: o primeiro, piso-teto, valoriza as visuais e a integração entre os espaços internos e externos; e um segundo plano, linear e mais alto, permite ventilação cruzada mesmo que a casa esteja fechada. A ventilação cruzada atravessa os ambientes através de caixilhos altos e telados em faces opostas, e a relação de ambientes internos com o exterior se faz de forma plena.

O Modular 2A

O sistema 2A é um desdobramento do sistema 5.5 que permite novas possibilidades de implantação e a verticalização da construção em dois andares. Com estrutura em MLC e lajes e paredes em CLT, sempre tendo o eucalipto como base, o sistema oferece a madeira natural como acabamento para as áreas internas. O Modular 2A não possui os grandes beirais do Modular 5.5, mas pode ser composto com abas ou pérgolas que formam varandas e áreas sombreadas e que podem ser acopladas onde houver necessidade. Por não possuir grande beirais, o Modular 2A pode adapta melhor a terrenos menores ou muito arborizados, que possuam áreas disponíveis reduzidas para a implantação das casas. Além disso, o Modular 2A, apesar de ter as mesmas plantas do Modular 5.5, foi projetado utilizando peças (de MLC e CLT) de menores dimensões, podendo ser transportados em caminhões menores, tornando viável acesso e montagem em condições topográficas mais desfavoráveis ou de maior densidade arbórea.

Conforto Visual, Térmico e Acústico

O sistema resultou em excelente desempenho térmico, acústico e visual para os ambiente internos. As paredes e a cobertura, vedados com painéis de madeira (CLT) de 8 cm, além das mencionadas facilidades de montagem, atuam como isolantes térmicos de alta inércia e resultam num excelente acabamento para os ambientes internos. A madeira engenheirada evita ainda fungos e pragas, com ótima condição de manutenção. O uso de fachada ventiladas, no caso ripas de madeira e manta Tyvek, além de proteger os painéis das paredes, é mais um elemento de eficiência térmica e estanqueidade. Dessa forma, os ambientes internos resultam sempre bem iluminados e ventilados, elementos mais importantes para as melhores condições de saúde numa construção residencial. Em contraponto aos amplos caixilhos, as paredes e os tetos em madeira de tom médio (eucalipto) oferecem uma atmosfera de luz equilibrada, sem pontos de ofuscamento e sem zonas escurecidas. A cozinha é compacta e integrada ao ambiente da sala, e seu desenho inclui equipamentos como geladeira/freezer, fogão, exaustor, forno de micro-ondas, filtro de água, triturador e lixeira embutida – além de bancadas e armários, atendendo a todos requisitos ergonômicos. Sobre a bancada foi prevista uma janela horizontal e foi desenvolvido um projeto específico de iluminação que garante a melhor qualidade de iluminação para essa área de trabalho.

Inovação

A inovação do sistema Modular BV inclui, dessa forma, tanto aspectos ligados ao uso do material, como a maneira de se entender a operação do canteiro de obras, como as questões de adaptabilidade, seja em relação ao programa, sua distribuição, à forma de implantar a nova construção sobre o terreno respeitando suas características geográficas e o alto grau de personalização que o sistema oferece. O Modular BV difere dos sistemas modulares apresentam uma ideia de uma cápsula compacta levada pronta desde a fábrica, mas que tem grande limitações quanto a flexibilidade e, sobretudo, tornam o transporte onerosos e podem ser inviáveis em casos de terrenos de difícil acesso e sem grande espações para a montagem (seja pela topografia, pela densidade da arborização etc.). O sistema construtivo do Modular BV atende do ponto do equacionamento do programa, das dimensões dos ambientes, facilidade de transporte e acesso em montagem em sítios remotos e de difícil acesso.

Data do início do projeto

2022

Arquitetura

UNA barbara e valentim: Fernanda Barbara e Fabio Valentim

Colaboradores

Breno Sá, Elena Geser, Giulia Giagio, Ícaro Cordaro, Igor Helian, Pedro Ribeiro, Rodrigo Carvalho, Tamar Firer, Victória Liz Cohen, Yasmin Dejean

Estrutura

CROSSLAM Brasil - Estruturas de Madeira Engenheirada

Construção

Abaeté Construtora e Incorporadora
Taguá Engenharia e Construção

Luminotécnica

Ricardo Heder

Mobiliário (renders)

,OVO – Gerson de Oliveira e Luciana Martins