Caracterização da área
O terreno ocupado pela antiga fábrica de papelão junto à Avenida Luis Inácio de Anhaia Mello, que receberá o corredor Expresso Tiradentes, irá abrigar um terminal intermodal. Essa nova rede de transportes públicos, no local, trará transformações profundas com conseqüências que deverão ultrapassar os limites da própria quadra. Localizado no bairro da Vila Prudente, a gleba é delimitada ainda pelas ruas Ibitirama, Cavour e Itamumbuca.
Está prevista nesse local a construção da estação de transferência de ônibus, com capacidade para 6.000 passageiros/hora, um terminal de trolebus e duas estações de metrô, uma prevista para 2012 (linha 2), com 65.000 passageiros/hora e outra para 2025 (linha 6: Freguesia do Ó – Oratório).
A estação de ônibus está em fase de desenvolvimento pela SPTrans e foi implantada junto à avenida, na cota mais baixa da área da fábrica, parcialmente desapropriada; as estações de metrô ainda não possuem projeto específico, mas há previsão de desapropriação da porção restante de terreno. Com a chegada desses equipamentos públicos de transporte de alta capacidade, invariavelmente, esse lugar passará por transformações estruturais, que devem ser acompanhadas por um plano de desenvolvimento que leve em consideração a multiplicidade de fatores de impacto urbano. Num primeiro momento, é essencial que os fluxos de passagem sejam indicados e seus espaços sejam amplos, compatíveis com o elevado número de pessoas que passarão a circular no entorno imediato da estação intermodal. Será, portanto, indispensável incluir praças e áreas públicas no novo projeto de desenvolvimento.
O bairro da Vila Prudente tradicionalmente se caracteriza por ocupação de baixa densidade, predominantemente horizontal, e uso misto, com atividades comerciais importantes ao longo das ruas Orfanato, Paes de Barros, Vila Ema, Zelina. O setor tem ocupação recente, nos mapas da cidade de 1930 [Sara Brasil] há ocupação apenas no núcleo da fábrica e no entorno das praças Padre Damião e Centenário da Vila Prudente, hoje respectivamente centro comercial do bairro e praça de equipamentos públicos [praça, escola estadual, biblioteca infanto-juvenil e unidade de saúde]. A abertura da Avenida Anhaia Mello e canalização do córrego da Mooca datam da década de 1970. A ocupação do bairro vem se transformando, aos poucos, com a construção de torres residenciais e com a conformação de alguns condomínios fechados.
A ocupação industrial também caracteriza a região, sobretudo ao longo dos eixos principais de circulação. No entanto, há várias glebas abandonadas e outras em transformação, paulatinamente substituídas pelo novo padrão habitacional que vem se implantando. No terreno em questão a Companhia Industrial Paulista de Papel e Papelão funcionou durante 80 anos, fechando as portas em 1993. Há um conjunto formado por dois galpões originais, relativamente bem conservados, e um menor, já bastante descaracterizado. Outras construções mais recentes foram adicionadas à quadra, sem interesse histórico ou arquitetônico.
Não há indícios de contaminação do solo, segundo relatório de Estudo de Impacto Ambiental, entretanto é recomendada a realização de pesquisas mais detalhadas junto a CETESB no momento de desenvolvimento dos projetos específicos das estações e do empreendimento.
Diretrizes do projeto urbano
O projeto realiza a conexão entre os diferentes meios de transporte, localizados em cotas distintas, e o tecido urbano adjacente. O perímetro da Operação Urbana Diagonal Sul, em desenvolvimento pela sempla, é limitado pela Rua Ibitirama e a área de intervenção em questão, portanto, está fora desse perímetro.
A estação de transferência, segundo projeto da SPTrans, terá acesso através de passagem subterrânea, localizada no primeiro subsolo, o que permite a ligação direta com o mezanino do metrô.
A diferença de nível nessa quadra chega a 9 metros de altura. O maior desnível está na esquina da Rua Cavour com a Itamumbuca em relação à Avenida Anhaia Mello, praticamente plana neste trecho. O projeto procura concordar estes níveis através da construção proposta, criando acessos diretos com a rua ao longo de todo o perímetro, e pátios e embasamentos que acomodam as diferenças de altura.
Procurou-se, com isso, estabelecer uma mediação entre as escalas presentes na gleba: a escala do bairro, de maior tranqüilidade e silêncio, priorizando a criação das áreas de estar e áreas verdes na cota mais alta do terreno; e a escala metropolitana, do corredor de transporte, na cota mais baixa, com fluxo intenso de pessoas e veículos, e alto nível de ruído.
Conceitualmente o projeto urbano se coloca como esquema de articulação desses espaços e usos indicados. São propostos vetores verticais e horizontais para ocupação da gleba, e devem ser verificados e revistos à medida que o programa se consolidar.
A conexão do mezanino com as plataformas de metrô aparece como estratégia de obra, e deve estar prevista antes do início do empreendimento. Nesse estudo foi proposta a construção do mezanino do metrô através de subsolo pelo sistema cut and cover, simultaneamente ao novo empreendimento, utilizando a área de terreno restante da desapropriação da SPTrans.
A incorporação de dois galpões preservados e dos muros de arrimo, parte do núcleo de 1913 da fábrica de papel desativada, procura valorizar a presença industrial, marca da urbanização inicial desse bairro. O conjunto passa a realizar o acesso às estações de metrô e ônibus pelo subsolo, e a interligação dos diferentes níveis presentes na quadra.
Os altos custos de implantação das duas estações do metrô podem ser compartilhados com outros investidores, havendo a possibilidade de incorporar novos usos às estações previstas. São programas que alimentariam a própria demanda do sistema de transporte, reforçando o caráter metropolitano do equipamento.
A presença da estação intermodal indica a necessidade de realização de um projeto urbano que leve em conta o impacto no entorno amplo em relação ao equipamento, como a análise urbanística demonstra.
Após a definição de usos pertinentes e o estabelecimento dos parâmetros de projeto para a estação Vila Prudente do metrô será necessária a adequação desse projeto e o desenvolvimento do programa específico junto da estação, adaptando-o à realidade urbana, mercadológica e econômico-financeira.
São Paulo, SP
2006
UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara, Fernando Viégas
Ana Paula de Castro, Eliana Uematsu, Jimmy Efrén Liendo Terán, José Carlos Silveira jr, Luís Eduardo Loiola de Menezes, Maria Cristina Motta
23.225,81m²
sptrans, São Paulo Transporte, Secretaria Municipal de Transportes
Planservi Engenharia, Encibra Estudos e Projetos de eng., Alphageos Tecnologia Aplicada