O Festival de Música de Campos do Jordão se tornou ao longo de quarenta anos uma referência cultural. Nesse sentido, exige um aprimoramento de suas instalações para garantir atividades permanentes durante todo o ano. Complementando o complexo arquitetônico iniciado com o Auditório Cláudio Santoro, será construído um conjunto para músicos cujos usos principais estão claramente divididos em dois: Alojamentos e Salas de Ensaio.
O novo terreno dista cerca de 300 metros da sala de concerto, com acesso pela Av. Luis Gonzaga Arroba Martins. É uma área desmatada de 7.000,00m2, em meio a uma grande reserva verde, onde há dois platôs para os precários pavilhões existentes que serão substituídos. Do nível de chegada tem-se uma extensa vista da Serra da Mantiqueira que culmina na Pedra do Baú.
A implantação do conjunto foi definida por duas ações: 1 – o redesenho do sítio, dentro do perímetro desmatado, através de construção que abriga áreas de uso coletivo (salas de ensaio, refeitório, serviços e administração), e propicia a expansão das atividades para o exterior, usufruindo da totalidade do terreno. 2 – a garantia da vista distante e a melhor insolação, desenhando uma lâmina elevada de dois pavimentos para os alojamentos, mais resguardados. A implantação desta grande peça longilínea intensifica a relação da construção com a paisagem natural, revelando a clareira na mata como parte do conjunto. No térreo, entre as peças horizontal e vertical, o andar livre com o saguão de convivência envidraçado, que estrategicamente faz a mediação entre os usos, se estende em varanda e solário. Desenhou-se ainda uma pequena torre com alojamentos diferenciados, associada a todo o conjunto, que concentra os equipamentos de infraestrutura como reservatórios de água limpa, tanques de reuso, máquinas de climatização e elevadores com paradas em todos os pavimentos.
Na lâmina vertical as escadas em continuidade estabelecem um percurso que se desdobra nos diferentes andares e conecta a base à lâmina. Do térreo para cima, esse passeio conforma uma seqüência de furos no edifício (perceptível na varanda da fachada) que ao atingir o último piso configura um mirante para a paisagem. Essa seqüência de espaços numa ponta, a ponte de ligação com a torre na outra e as janelas ao longo da circulação quebram uma possível monotonia do corredor. Descendo, atinge-se o mezanino, onde estão a administração e as salas menores de ensaio, intercaladas por um grande pátio interno que inunda esses ambientes de sol. Essas áreas se abrem para o andar de baixo que abriga as grandes salas de ensaio e refeitório. Com pé-direito duplo e recortes na cobertura para entrada de luz e ventilação, estes espaços estão associados ao pátio, com piso de pedras locais para acumular o calor. A cozinha e lavanderia se localizam no nível abaixo da administração e têm acesso independente da rua para carga e descarga.
As salas de ensaio e prática envolvem intenso trabalho de planejamento e projeto acústico. Por horas seguidas, em um mesmo dia, as nuances da execução musical, do pianíssimo ao fortíssimo, são simultaneamente ensaiadas, executadas e avaliadas em várias salas adjacentes. A escuta musical nas salas de ensaios e de prática individual é fundamental para o aperfeiçoamento dos músicos. Isto depende de silêncio e de qualidade acústica nas salas.
A qualidade acústica define, então, o desenho dessas salas, agrupadas pelas famílias instrumentais: sopro, cordas, voz e complementos. O isolamento acústico é fundamental, para minimizar as interferências entre diferentes atividades. Adotou-se paredes isolantes, em alvenaria ou “drywall” especial, pisos e forros flutuantes, portas e janelas acústicas. O sistema de ar condicionado é silencioso.
As salas foram dimensionadas para não interferir na reprodução do som e fornecer um ambiente propício para o aperfeiçoamento da escuta sensível dos músicos. As corretas relações entre a altura do forro, altura e largura da sala e as paredes que evitam os paralelismos impedem ressonâncias audíveis nas pequenas salas de ensaios. A adequação dos pés direitos, caminho crítico para manter a qualidade acústica no espaço, também é preocupação do projeto. Sistemas como difusores acústicos são utilizados para reforçar sons que definem o timbre e a articulação. E elementos de absorção acústica corrigem pequenos defeitos geométricos, por vezes inevitáveis em salas pequenas. A distribuição de difusão e absorção acústica é feita considerando fatores como equalização do som e ambientação.
Paredes de vidro, com excelente resposta acústica, permitem avistar a vegetação próxima, condizente com a proteção e a concentração exigidas. Formam-se, assim, grandes volumes de madeira dispersos no salão que se afastam criando uma pequena praça abrigada para descanso dos músicos. Enquanto nos dormitórios privilegiaram-se as visadas ao longe, deste nível torna-se possível acesso pleno à mata.
Buscou-se adequado tratamento bio-climático e economia de recursos, garantindo a denominada sustentabilidade e um conjunto de ações exemplares para essa obra. O clima é determinante (1700 metros de altitude), com temperaturas baixas, que no inverno tem média de oito graus e no verão, dezesseis. A orientação nordeste para as habitações tem o intuito de conjugar a melhor vista com a incidência prolongada de sol. Evita-se, assim, o controle térmico artificial na maior parte do tempo, gerando grande economia energética. A lâmina fina maximiza a iluminação natural e garante a ventilação higiênica cruzada. Os materiais escolhidos tem longa durabilidade e foram pensados para envelhecer mantendo suas qualidades. Concreto, madeira de reflorestamento e vidro foram arranjados para propiciar retenção de calor, ou seja, massa térmica interna e vidro como envelope. Estão previstos, na cobertura, painéis solares para aquecimento de água, e no nível inferior, reservatório de retenção de águas pluviais, para reuso nas bacias e nos sistemas de irrigação de jardim.
Devido à necessidade de isolamento acústico entre as salas de ensaio, está indicada a climatização mecânica para esses ambientes. O sistema de ar-condicionado sugerido é formado por uma condensadora central modular de acionamento progressivo e evaporadoras de controle independente de fluxo e temperatura em cada ambiente.
A estrutura em concreto armado representa, nesse caso, grande economia de custos de obra, pois todas as lajes grelhas foram moduladas para que a construção seja executada com uma única fôrma industrializada e reaproveitável em todo o edifício.
Nossa equipe encaminhou o estudo prévio para análise na prefeitura, a partir do qual se obteve a Diretriz de Licenciamento das Edificações, que indica uso conforme para este projeto. A legislação local restringe a ocupação nesse terreno para térreo e mais dois pavimentos superiores. Permite, também, o uso dos pavimentos inferiores, devido o terreno em declive. O projeto apresentado já foi adequado a todas as determinações exigidas pela Prefeitura Municipal de Campos do Jordão.
Campos do Jordão, SP
2009
UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara e Fernando Viégas
Engesolos Engenharia de Solos e Fundações Ltda.
Stec do Brasil
Pessoa e Zamaro, eng. Marcelo Zamaro
Thermoplan Engenharia Térmica Ltda.
Consultores em Acústica e Vibrações ltda.
Arqeficiente Projeto e Consultoria em Arquitetura ltda.
Reka Iluminação, Ricardo Heder
O Bonsai, Paisagismo Ltda.
Bvy Arquitetos Associados Ltda.
Una Arquitetos Ltda.
Paulo Duarte Consultores Associados
Pml Engenharia e Arquitetura Ltda.
Shibuya Serviços de Agrimensura Ltda.
Proassp Assessoria e Projetos Ltda.
Juvenil Longo de Souza
Bebete Viégas
Jimmy Liendo