O projeto de ampliação do Museu de Arte Moderna de Medellín procura vincular a instituição à vida cotidiana da cidade a partir do espaço público urbano.
O novo edifício se configura como um volume que se sobrepõe ao do atual Museu de Arte Moderna para criar unidade e reforçar a integração de espaços coletivos qualificados. Parte da Plazoleta à frente do edifício; passa pelo interior do museu (através de seu espaço mais significativo, que é o salão central para exposições de grande formato) e desdobra-se numa grande praça protegida pela nova construção; estendendo-se, por fim, ao parque linear, proposto pelo plano urbano.
As possibilidades de uso desse novo espaço público advêm da sombra gerada pela nova edificação que ameniza a sensação térmica gerada pelo clima quente e úmido de Medellín. Assim, imaginam-se festas, exposições externas (tão propicias à arte contemporânea), montagens de espetáculos, usos imprevistos, diurnos e noturnos. Um museu que se revela vivo e aberto a todos.
A intervenção pressupõe a integração efetiva entre as duas alas, nova e antiga. A idéia de um museu mais forte, visível em seu conjunto, orienta o projeto. Diante de certa opressão causada pelos edifícios vizinhos, torna-se necessária uma operação que equacione a volumetria do conjunto, para que o museu garanta sua presença no sítio.
Não se trata de distinguir, pelo viés construtivo, o bloco suspenso do edifício atual. O novo volume funde seus apoios no prédio existente, e assim flutua sobre ele. A tensão dos dois se esclarece e se potencializa em sucessivas relações. Como se a arquitetura se amparasse diretamente nos mecanismos das artes para redefinir o lugar.
Acessos
De todos os lados, inclusive da Avenida de los Industriales, a intervenção torna-se perceptível. O uso sublinha essa fusão, pois o acesso às novas atividades acontece através das extremidades do prédio atual, um único percurso para o visitante. Ampliam-se, assim, as entradas. Onde antes havia frente (Carrera 44) e fundo (estacionamento) para o museu, passa-se agora a dois acessos qualificados e convergentes. O estacionamento em subsolo direciona os visitantes para a entrada oriental.
Distribuição de Usos
O arranjo espacial predominantemente horizontal permite otimização de serviços e inter-relação das novas atividades. Acima, no primeiro pavimento, estão as reservas técnicas, as três salas de exposição e a sugestão de uma nova sala, para audiovisual. O conjunto de salas de reserva e ateliês técnicos estão concentrados de forma a garantir a funcionalidade e segurança das peças manuseadas. Todas estas salas são protegidas da incidência de luz solar e possuem controle de temperatura e umidade. Os ateliês de restauração e produção voltam-se para um pátio resguardado, com controle de iluminação natural. Podem, no entanto, ser avistados pelo público que circula pelo museu, revelando essas atividades.
As salas de exposição podem ser unificadas em um grande salão, onde as treliças metálicas dividem três alas. Possuem controle de temperatura e umidade, e modernos sistemas de segurança e combate a incêndio, monitorados através de uma central de controle localizada na cobertura.
No andar superior, em mezanino, encontram-se a administração, os talleres de formación e o foyer do cinema-auditório com capacidade para 250 pessoas, cabine de tradução e projeção. Os talleres de formación podem ser unificados e se transformar em uma só sala.
A placa suspensa determina dois grandes terraços na cobertura, animados por café/restaurante de um dos lados e livraria de outro. Esse espaço aberto, a 25 metros do chão, relaciona-se com as montanhas que configuram o vale formador da cidade de Medellín e proporciona uma compreensão da escala da paisagem.
Circulação
Devido à altura, a circulação preferencialmente será feita por dois grandes elevadores (comuns aos museus verticais), que são dimensionados, também, como monta-cargas. As peças maiores serão erguidas por talhas fixas na estrutura do novo bloco e descarregadas diretamente no nível do andar de exposições, através de aberturas internas ao volume. A praça coberta passa a oferecer um acontecimento quando do transporte destas peças. Os elevadores e escadas de segurança interligam os cinco andares do edifício: subsolo para estacionamentos e serviços [incluindo carga e descarga]; nível de entrada do museu atual; nova ala de exposições e reserva técnica; mezanino para cine-auditório e administração; e, na cobertura, os terraços. A reserva técnica e a administração foram dotadas, cada uma, de circulação interna e restrita aos funcionários.
Estrutura
O subsolo funciona como bloco de fundação para ancorar a construção e gerar estabilidade à estrutura em balanço. Sua vinculação aos blocos de fundação se dará através de amortecedores já prevendo a ocorrência de possíveis abalos sísmicos. O apoio da placa metálica suspensa se concentra nesta torre central. Uma estratégia para execução da obra está prevista para que a intervenção não cause transtorno ao funcionamento do museu. O subsolo será construído em área externa, adjunta ao edifício existente e será ligado à torre, que necessita de apenas dois metros além de seu perímetro para que seja executada. A cobertura será retirada neste trecho, para dar lugar à construção da torre, executada com formas de concreto deslizante. Esta é a única interferência no prédio antigo, pois a estrutura metálica superior será construída em técnicas com balanços sucessivos, comum às pontes, e totalmente independente do edifício existente.
O volume superior é composto por treliças metálicas paralelas de oito metros e meio de altura, que se projetam 36 metros para cada lado e se contrabalançam. Os planos de piso e cobertura, por sua vez, também se equilibram, e formam uma placa de 42 metros de largura. A própria construção do edifício pode ser imaginada como um evento de demonstração pública da técnica e transformação do lugar.
Economia de recursos
Foram consideradas soluções para economia dos recursos para manutenção do edifício. Os programas do primeiro pavimento e mezanino se agrupam em volumes internos soltos, com fechamentos independentes das fachadas. Esta solução permite que o condicionamento de temperatura e umidade seja específico para cada ambiente e que os espaços de circulação possam ter trocas permanentes de ar, gerando enorme economia energética. Devido à extensa superfície horizontal, é possível recolher um grande volume de águas de chuva que será armazenado no subsolo e reaproveitado para usos adequados. Além disso, o novo bloco sombreia o antigo, funcionando como anteparo ao sol, melhorando as condições térmicas do museu atual nos dias quentes. Réguas de madeira de reflorestamento recobrem todo o edifício e assumem distintas qualidades: piso drenante no terraço, forro contínuo para a praça e brise soleil para as fachadas.
Todas as soluções construtivas e de acabamentos adotadas contribuem para garantia de boa inércia térmica do edifício, principal condição para o adequado controle de temperatura e umidade nas salas expositivas e reserva técnica, com recursos minimizados de energia e de manutenção dos equipamentos de condicionamento ambiental.
Todas as salas de exposições contam com total controle da iluminação natural, adequando-se aos mais exigentes índices, 50 lux, no caso de exposição de objetos sensíveis, de acordo com os padrões internacionais de conservação.
A iluminação artificial irá trabalhar basicamente com dois mecanismos. Luz difusa, homogeneamente distribuída através de luz indireta a partir de um grande plano rebaixado e afastado a cerca de 1,5 metros de todas as paredes. Como complemento, trilhos eletrificados paralelos às paredes garantem iluminações pontuais. Todo o sistema será controlado por dimmer.
Impactos urbanos
A geometria e a materialidade do projeto buscam suscitar uma nova unidade que revele em negativo a construção original, através do vazio, ou a praça de acesso. De dia, um volume opaco, e à noite, uma lanterna que indica o novo uso.
O edifício abriga de forma estratégica o programa solicitado numa placa horizontal suspensa que multiplica os espaços públicos e de convívio. Deseja se aliar ao grande número de intervenções que vem acontecendo com muito sucesso na cidade de Medellín.
Medellin, Colômbia
2009
UNA arquitetos: Cristiane Muniz, Fábio Valentim, Fernanda Barbara e Fernando Viégas + Opus Estudio_Carlos Andrés Betancur, Manuel José Posada, Carlos David Montoya
Ana Paula de Castro, Carolina Klocker, Fabiana Cyon, Gabriela Gurgel, Silio Almeida, Miguel Muralha
3.000m²
Rodrigo Naves, Nuno Ramos, Elisa Bracher
cia. de Projeto - Heloísa Maringoni
Gedley Belchior Braga
PVG Arquitectos ltda.